quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sugestão de leitura: Palavra de Jornalista - Cultura Catarinense

A Palavra de Jornalista é uma publicação do curso de Jornalismo da Univali, um material muito bacana disponibilizado para os acadêmicos da disciplina de Jornalismo de Revista realizarem e publicarem suas reportagens. A cada semestre, um tema diferente. Os trabalhos são orientados pela professora Laura Seligman, editora responsável.

Como ontem foi dia do repórter, para comemorar, deixo aqui esta sugestão de leitura, a Revista Palavra de Jornalista, na sua edição sobre a nossa querida Cultura Catarinense.

Na capa desta edição: os bilros, intrumentos usados para fazer renda, uma tradição de mais de dois séculos no nosso estado. Fui à Lagoa da Conceição, em Florianópolis, um lugar muito bonito, cheio de personagens únicos, só para conhecer a famosa renda de bilro, um dos símbolos da nossa cultura e também as que fazem dessa tradição tão importante para nossa história: as rendeiras, mulheres que vem lutando para não deixar a renda de bilro ser esquecida. É claro que o passeio foi ótimo e a reportagem ficou um brinco, mas não posso esquecer das colegas, que se empenharam e ajudaram a fazer a melhor edição da revista até agora.

Confira a edição de junho de 2010 da Palavra de Jornalista em versão pocket e coloridinha!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quanto custa a sua fé?

Na sessão do descarrego, fiéis acreditam na cura através da aliança com Deus, mas ela tem um preço: 10% daquilo que receberem

Uma lenta canção instrumental acolhe os fiéis que aos poucos começam a formar um modesto público pelos 1.400 assentos do amplo e luminoso edifício. Pessoas de todos os tipos começam a chegar: elas são magras, gordas, altas, baixas, de pele clara e escura, de diferentes classes sociais e algumas acompanhadas de crianças pequenas. Um evento muito peculiar está para começar. E cada um está ali por um único motivo: livrar-se de todos os males que possam afligir suas vidas.

No altar, alguns vasos com vinho e o óleo que representa o Espírito Santo chamam a atenção. O óleo, que tem um cheiro um pouco desagradável, é uma espécie de “condutor” para a cura – ele é passado nas palmas das mãos, que são levadas à cabeça ou à parte do corpo que está doente. Atrás do púlpito, a fotografia de uma paisagem que compõe a decoração tem um significado: pedras e plantas verdes envolvem a água que cai em cascata – a água representa o batismo. O púlpito é comum, de madeira, com uma cruz talhada na parte da frente. É neste local que o Pastor Edson Nascimento dos Prazeres, 46 anos, passa a maior parte do tempo lendo os dizeres da Bíblia, ou transmitindo suas ideias, suas crenças. Assim que ele sobe ao altar, todos se levantam.

– Diga “graças a Deus”. Bote a mão no coração, que nós vamos falar com Ele. – Diz o Pastor, que logo dá início à primeira canção de louvor de maneira desafinada, com ajuda do tecladista: “Seguuura na mão de Deeeus... e vaaai.”

A moeda da fé

Terminada a canção de louvor, o pastor Edson começa a falar de dinheiro, como numa aula de matemática financeira (os sermões parecem ser decorados como um texto, um roteiro, pois pouco se diferenciam conforme a cerimônia):

– Uma das coisas que baseiam nossa fidelidade com Deus é o dízimo. Independentemente de quanto você receber, 10% deve ser devolvido a Jesus. Se você ganha R$ 10 mil, R$ mil é de Jesus, se você ganha R$ 500, R$ 50 é de Jesus. – O dízimo é coletado em envelopes. O fiel ainda pode fazer uma oferta de quanto quiser. É através da oferta que ele pode reafirmar sua aliança com Deus.

A servente escolar Nereusa Borges, 48, diz que os pastores da Congregação Cristã no Brasil ensinam que só se deve dar o dízimo se sentir-se à vontade. “Eu acredito fielmente no que o pastor prega porque tudo o que ele diz está na Bíblia e nossa igreja segue somente a palavra Deus, aí não tem como duvidar”, diz Nereusa. Assim como a servente escolar, muitos creem em pastores como Edson, que afirmam: “para ser feliz, sacrifícios são necessários”. E Edson sabe bem o que é isso. Antes de pregar na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Edson era alcoólatra, como o pai: “Meu pai morreu na cachaça, usava lança-perfume, vivia nas drogas”. De acordo com ele, a igreja é a salvação, a cura para doenças do corpo, da mente e da alma, como o câncer, a depressão, as visões e até mesmo a AIDS.

Começa, então, a oração pelos dizimistas. “Que Deus possa fazer coisas maravilhosas pelos dizimistas de Itajaí”, diz Edson. Para ele, Deus é alguém muito rico, contudo, não se deve pensar que para seguir à palavra, o fiel deve abrir mão de ter posses, bens materiais.

– Essa história de que Jesus foi simples, humilde, de que a pessoa tem que viver e não pode ter riquezas, não pode adquirir bens, isso é história para boi dormir. Aliás, nem boi está dormindo mais com essa história. – Edson eleva o tom da voz e pergunta aos fiéis:

– Deus quer que você tenha uma vida abençoada. Amém? Ele quer que você ande rasgado? Que você viva mal? Venha a se alimentar mal? Se vista mal? Não, Ele quer que você tenha o melhor, por isso está escrito: “Comereis o melhor desta terra e vos fartareis”. Então, se você quer comer desta terra, venha fazer uma parceria com Deus, venha tornar-se dizimista.

Edson diz que o aluguel pago pelo local onde acontecem as cerimônias, que fica na rua Heitor Liberato (popularmente conhecida como rua Silva) em Itajaí, é de R$17 mil, mas esse valor não sai do bolso dos fiéis, pois não é possível arrecadar tanto. No entanto, não importa a posição financeira dos frequentadores – a maioria confia na palavra do pastor e não hesita em contribuir, embora muitos sequer saibam o que é feito posteriormente com o dinheiro. Jaqueline Boaventura Delfim, 26, é fiel da Assembleia de Deus e há oito anos deposita todo mês R$ 140 nos cofres da igreja. Apesar de não saber o que é feito com o dízimo, a zeladora não se arrepende: “Eu não sei para onde vai esse dinheiro, só penso que Deus está vendo: minha parte eu faço.”

O descarrego

“É hora de exterminar todos os males da família: doenças, drogas, amantes, brigas e o cigarro, que é a chupeta do diabo...”, diz o pastor Edson, dando início à parte principal da cerimônia: a sessão do descarrego. Todos se aproximam do altar e o óleo malcheiroso, símbolo do Espírito Santo, é passado nas mãos de cada um. O pastor ordena: “bote suas mãos no local da enfermidade, ou então na cabeça”. Como num ritual de exorcismo, dois pastores se aproximam e começam a expulsar os supostos demônios dos fiéis, apoiando a mão em suas cabeças e orando em um tom de voz quase ensurdecedor.

As orações são incompreensíveis. Apesar da voz exaltada e do auxílio do microfone, é difícil entender o que é dito. E embora a reza seja indecifrável, todos, inclusive as crianças, se emocionam, choram. Como numa dança, pernas inquietas embalam o corpo de um lado para o outro, até que tudo fica em silêncio novamente. Os fiéis se mostram cansados, tristes. De repente, um homem de aproximadamente 60 anos chama Edson, que pergunta:

– Qual era o local da dor? Está se sentindo bem agora, não está? – O homem responde, mas o pastor se esquece de levar o microfone à sua boca:

– O braço estava doendo – diz o homem, que havia carregado materiais pesados durante o dia. Não satisfeito com apenas uma resposta, ou com um simples braço, Edson pede mais um depoimento, mas ninguém responde. O descarrego parece não ter funcionado muito bem. Com um olhar desapontado, de pálpebras semiabertas, o pastor encerra com uma oração, uma canção de louvor, e oferece mais uma vez o envelope do dízimo, envelope este que carrega o preço da fé.

sábado, 6 de novembro de 2010

Jogo de Cena

O Teatro Glauce Rocha é o palco para “Jogo de Cena”, de 2007. Trata-se de um documentário de Eduardo Coutinho sobre histórias de mulheres unidas pelos dramas da vida, que mistura realidade e interpretações de atrizes como Marília Pera, Fernanda Torres e Andréa Beltrão. Essa mistura de realidade e interpretação é a brincadeira proposta pelo diretor – ela acontece no palco, regada a lágrimas, risos e vozes embargadas. E tudo isso começou com um anúncio no jornal – a produção do filme solicitou mulheres que tivessem uma história sobre si mesma para contar em frente às câmeras. O resultado foram 83 respostas, das quais 23 foram selecionadas.

“Jogo de Cena” não apenas traz atrizes de alto nível, mas desafios completamente diferentes para todas elas e também para o espectador que tenta decifrar o que é relato e o que é interpretação. Ao mesclar participações de ícones consagrados com atrizes desconhecidas, acostumadas com papéis de pouco destaque, Coutinho acaba por fazer esta obra ainda mais intrigante. Mas reconhecer quem está contando sua própria história e quem está interpretando não é a proposta central deste documentário.

A emoção está presente em cada personagem e o drama é o vínculo entre cada uma das mulheres, sejam elas atrizes ou não. Alguns fatos em comum são o nascimento ou a perda de um filho, o conflito entre familiares e a relação com a religião. São relatos banais que se destacam por suas singularidades e pelos recursos usados nas representações.

É normal sentir-se enganado no decorrer da obra. “Jogo de Cena” tem justamente o objetivo de trair seu público, de emocioná-lo com a mesma história mais de uma vez. E não é necessário haver lágrimas para causar comoção ou acrescentar dramaticidade ao relato. Marília Pera diz que “esconder a lágrima durante o choro dá mais sinceridade ao sentimento”.

Eduardo Coutinho é um dos mais competentes nomes do gênero documentário no Brasil. O cineasta é conhecido por sua sensibilidade ao abordar a realidade brasileira, do povo brasileiro, de maneira profunda e humanizada. Sua carreira no cinema começa com a ficção, na qual firmou parcerias com Leon Hirzsman, Eduardo Escorel, Bruno Barreto e Zelito Viana. Coutinho ainda trabalhou como redator, editor e diretor de médias-metragens para o Globo Repórter, onde permaneceu até 1984, realizando documentários rodados em 16 mm, sempre com liberdade editorial, algo surpreendente para uma época em que a ditadura militar no Brasil dava seus últimos suspiros. Ainda em 1984, Coutinho criou uma de suas mais importantes obras, “Cabra Marcado para Morrer”, que narra a história de um líder camponês da Paraíba assassinado em 1962. Este semidocumentário lhe rendeu 12 prêmios, entre eles um Fipresci no Festival de Berlim em 1985.

“Jogo de Cena” foi o penúltimo filme lançado com autoria de Eduardo Coutinho. Seu último documentário, de 2009, é “Moscou”, uma espécie de continuação para “Jogo de Cena”. No Internet Movie Database (IMDB), “Jogo de Cena” recebeu nota 8.8 numa escala de dez e comentários elogiosos dos usuários. O sucesso deste documentário reafirma o talento de Coutinho, que conseguiu transmitir emoção e realismo através da linha tênue que separa o relato da interpretação.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

The Walking Dead



The Walking Dead estreou nesta semana em grande estilo. No início do episódio piloto, foi impossível não ter um déjà vu. Quando o policial Grimes acorda depois de passar um bom tempo em coma e descobre que o mundo foi dominado por zumbis desfigurados, logo lembrei de "Extermínio" (28 Days Later). De qualquer maneira, mesmo com um início meio sem sal nem açúcar, a nova série exibida no Brasil pelo canal pago FOX promete ser uma boa opção para os amantes do terror e fãs de Kirkman, que até então tinham de se contentar apenas com a versão em HQ da história.

O seriado teve recorde de audiência nos EUA: 5,3 milhões de espectadores, que acompanharam a saga do policial Grimes na busca por sua mulher e seu filho. Os próximos episódios devem conter cenas abundantes de mortos-vivos desmembrados, corpos em decomposição, sangue, tripas e muita bala na testa.

Eu já sabia

Revista Quem, 17 de fevereiro de 2010:
Robert Pattinson diz que tem "alergia" de mulher
Ator, que posou para ensaio cercado de mulheres nuas, afirmou que não se sente à vontade com o órgão feminino

Robert Pattinson confessou que não fica muito à vontade diante do órgão sexual feminino. O ator revelou sua "alergia", como ele mesmo define, em entrevista concedida a revista masculina "Details". No editorial fotografado para a mesma edição da publicação, o ator da saga “Crepúsculo” aparece rodeado de mulheres quase nuas.

De acordo com o "New York Post", Pattinson teria dito na entrevista que "realmente odeia vaginas" e, para reafirmar o que disse, teria reforçado que era "alérgico" a elas.


Eu já sabia.


AI, EMPOLEI!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Das ruas para os lares

Animais de rua transmitem doenças e causam acidentes no trânsito. Só a adoção consciente pode acabar o abandono no litoral catarinense.

Eu chamo sua atenção – brinco, rolo, faço barulho, na esperança de que você me note, seja nas ruas, numa caixa de papelão ou numa feira de adoção. Sou vira-latas, tenho um cérebro pequeno, ajo por instinto, mas meu coração sente quando sou maltratado. Tudo o que peço é um lar, comida e um pouco de companhia – não quero luxo, nem lixo. Não sei o que é pet-shop, nunca tomei banho, não fui vacinado, nem mesmo castrado. Fui levado, quando ainda era amamentado, para servir de presente de aniversário infantil. O garoto até ficou feliz no começo, mas depois percebeu que faço xixi, cocô, que não gosto que puxem minhas orelhas e meu rabo. Então um poodle chamado Scooby tomou meu lugar e eu fui parar num terreno baldio, onde aprendi a me virar. Já morei em casa com piscina, em barraco de favela. De repente, nem sei mais onde moro ou como me chamo: Totó, Rex, Billy... Só sei que existem muitos como eu pelo mundo a fora – eu sou um animal abandonado.

Uma pesquisa realizada em 12 abrigos de animais nos Estados Unidos revelou as principais causas de abandono de animais: 18,5% dos 1984 cães e 37,7% dos 1.286 gatos foram parar nos abrigos por sujarem a casa. O estudo, publicado na revista veterinária "Journal of Applied Animal Welfare Science" ainda mostrou que a maioria das causas de abandono está relacionada com comportamento destrutivo do animal e por ele exigir atenção demasiada. Os motivos são banais, mas o ato é considerado crime de maus tratos e o infrator pode ser punido com detenção de três meses a um ano. Abandonar um animal, segundo a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, é um ato de crueldade. Leia mais

domingo, 23 de maio de 2010

Os furos da season finale de Fringe (contém spoilers)


O final da segunda temporada de Fringe me decepcionou e muito. Depois de alguns episódios que oscilaram entre razoáveis, horríveis e sensacionais, a season finale acabou com as minhas esperanças de uma terceira temporada que superasse todas as outras.

Mesmo com um final confuso e ao mesmo tempo previsível (quando Olívia tenta acordar William Bell desmaiado, percebi na hora que se tratava da Olívia
from the other side), fiquei bastante curiosa pra saber o que J.J. Abrams e sua turma farão para consertar algumas cagadas:
  • No outro universo, William Bell morreu atropelado quando jovem e jamais conheceu Walter. Sendo assim, os dois nunca fizeram experiências com a Olivia usando Cortexiphan e ela nunca desenvolveu a habilidade de abrir o portal para o outro lado. Como é possível, então, que Olívia from the other side tenha conseguido abrir esse portal?
  • A tal máquina que iria destruir um dos universos só fez figuração.
  • Walternativo é um cara que não sabe o que quer: recuperar o filho raptado para destruir o outro universo ou mandar Olívia from the other side para uma missão no outro universo, eis a questão.
  • A parte em que Peter aparece como uma espécie de dispositivo para ativar a tal máquina deixou um buraco enorme na série: afinal, Peter também tem habilidades incomuns? Comofas? Ele é um Visitante? Um Hero? Um X-Man?
Eu até tenho algumas teorias sobre o que aconteceu. Talvez William Bell tenha mentido quando disse que teria morrido jovem no outro universo. Mas mesmo assim, por quê ele mentiria? A tal máquina pode voltar na próxima temporada e isso me cheira a guerra entre universos, o que é previsível, já que a única explicação para a "infiltração" confusa da outra Olívia é que sua missão seja destruir o universo no qual está. Peter pode ter sido uma das cobaias na experiência com o Cortexiphan, por isso ele ficou doente e também desenvolveu habilidades incomuns.

Espero que com o fim de Lost, J.J. Abrams faça um trabalho melhor com Fringe, como fez na primeira temporada. Fringe season 3 está confirmada para 2011, dessa vez com Olívia de picumã novo. Força na peruca!